domingo, 19 de junho de 2011

Queimadas Nas Florestas

Nuvens de fumaça das queimadas bloqueiam 20% da luz solar, diminuem as chuvas e esfriam a Amazônia.

Quase todo mundo já viu esta cena, ao vivo ou na televisão: nuvens de fumaça tingem de cinza o céu da Amazônia no auge da estação das queimadas, entre agosto e outubro, a época mais seca do ano na região.

Nesse período, por falta de visibilidade, microscópicas partículas decorrentes da combustão da vegetação, chamadas de aerossóis, turvam de forma tão marcante o firmamento que aeroportos de capitais como Rio Branco e Porto Velho fecham constantemente para pousos e decolagens.

Tudo por causa da sombra de aerossóis que paira sobre partes significativas da Amazônia quando o homem usa uma das formas mais primitivas e poluidoras de limpar e preparar a terra para o cultivo, o fogo. A escuridão fora de hora, como se sobre a floresta houvesse um guarda-sol gigante fabricado pelo homem, pode ser o efeito mais visível de uma atmosfera saturada de finíssimas partículas suspensas, mas nem de longe é o único.

Só agora a ciência começa a ter elementos para ver que as queimadas, principal fonte de aerossóis durante a estiagem na região Norte, perturbam o clima e a vegetação de formas ainda mais sutis e perversas. Ao desencadear uma cascata de eventos físico-químicos poucos quilômetros acima da floresta, a espantosa concentração de aerossóis na Amazônia no auge da estação do fogo - com picos de 30 mil partículas por centímetro cúbico de ar, uma taxa cerca de 100 vezes maior do que a verificada na poluída cidade de São Paulo em pleno inverno - altera o ambiente imediatamente abaixo da nuvem de fumaça: reduz em média um quinto da luz solar que incide sobre o solo, tem potencial para esfriar a superfície em até 2º Celsius e diminuir de 15% a 30% as chuvas na região.

A redução da radiação solar na superfície, provocada pelo excesso de partículas em suspensão, pode ainda puxar para baixo a taxa de fotossíntese das árvores. "Como as partículas, às vezes, viajam milhares de quilômetros na atmosfera antes de caírem no chão, os efeitos dos aerossóis podem se manifestar em pontos distantes de onde ocorrem as queimadas", afirma Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade São Paulo (IF/USP), um dos pesquisadores que participam do Experimento de Larga Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). "Partículas provenientes da Amazônia já foram encontradas nos Andes e em São Paulo."

Isso não quer dizer que, em razão do resfriamento e da estiagem associados à ação dos aerossóis, a venda de malhas tenha disparado ou que os guarda-chuvas tenham caído em desuso em setores da Amazônia entre agosto e outubro. Tampouco há evidências inequívocas de que as árvores sofram uma baixa na fotossíntese nesse período do ano. Por ora, com exceção da mensurável queda na luminosidade que incide sobre a superfície na época das queimadas, as demais conseqüências atribuídas ao manto de poeira suspensa sobre a floresta ainda carregam um considerável grau de incerteza.

Aparecem mais na teoria, nos cálculos e modelos climáticos rodados em computadores, do que na realidade do dia-a-dia. Mas não se pode esquecer que os modelos são, em grande medida, o laboratório dos cientistas do clima, que, de outra forma, não teriam como estudar o impacto de alguns fenômenos da natureza. A boa notícia é que a quantidade de informações que começa a surgir sobre o clima da Amazônia com o LBA - megaprojeto internacional de US$ 80 milhões que, desde 1999, reúne mais de 300 pesquisadores da América Latina, Europa e Estados Unidos, sob a liderança do Brasil - não tem paralelo e já está ajudando a entender o efeito dos aerossóis nesse ecossistema. "Agora, temos informações riquíssimas que nunca foram disponíveis", diz a pesquisadora Maria Assunção Faus da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, que também participa do LBA.

Um comentário:

  1. Olá, dando uma olhadinha no blog.

    Parabéns pela confecção, apresentação no auditório da escola Sylvia Mello e a todos, que de alguma maneira, tornaram possível a execução desse importante Projeto "Feira de Ecologia".

    Abraços.

    Prof. Diná - GEO

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